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Amalia Rodrigues - A casa da mariquinhas

E numa rua bizarra
A casa da mariquinhas.
Tem na sala uma guitarra,
janelas com tabúinhas.
Vive com muitas amigas
aquela de quem vos falo,
e não há maior regalo
que vida de raparigas.

E doida pelas cantigas
como no campo a cigarra,
se canta o fado à guitarra
de comovida até chora.
A casa alegre onde mora
E numa rua bizarra.
Para se tornar notada
usa coisas esquisitas,
muitas rendas, muitas fitas,
Lenços de cor variada.
Pretendida, desejada,
Altiva como as rainhas,
Ri das muitas coitadinhas
Que a censuram rudemente
Por verem cheia de gente
a casa da mariquinhas.

E de aparencia singela,
mas muito mal mobilada
e no fundo não vale nada
o tudo da casa dela.
No vão de cada janela
sobre coluna uma jarra,
Colchas de chita com barra
Quadros de gosto magano
Em vez de ter um piano,
tem na sala uma guitarra.

Para guardar o parco espólio
um cofre forte comprou,
e como o gás acabou
ilumina-se a petroleo.
Limpa as mobilias
com olio de amendoa doce
e mesquinhas passam de fronte
as vizinhas
para vêr o que là se passa,
mas ela tem por pirraça
janelas com tabuinhas.

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